
Construir uma casa é, muitas vezes, um projeto de vida, e no caso da Cibele Santos foi também um percurso de aprendizagem, exigência e compromisso com o conforto e a eficiência alcançadas pela certificação Passive House. Nesta entrevista, a Cibele conta como, após um longo processo de pesquisa, optou por construir uma Passive House, e como a consultoria técnica foi determinante para que o projeto se concretizasse com sucesso. Do projeto à obra, passando pela certificação e pela futura monitorização, esta conversa mostra o impacto de escolher bem, planear com rigor e envolver as pessoas certas desde o início.
Margarida Gamboa (MG): Boa tarde Cibele, bem-vinda. A Cibele Santos é dona de obra de uma das próximas Passive House certificadas e hoje vamos conversar um bocadinho sobre a sua experiência enquanto dona de obra, que esteve envolvida num projeto e numa construção Passive House, e que está prestes a tornar-se moradora de uma. Queremos perceber como foi todo este processo. Cibele, começava por te perguntar: porque é que a tua casa é uma Passive House?
Cibele Santos (CS): É uma Passive House porque, desde o início, tínhamos a necessidade de ter uma casa confortável e, dentro das pesquisas que fizemos, considerámos que o conceito Passive House era o mais adequado.
MG: O que é que o distinguiu de outras soluções que viste?
CS: Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o facto de ser possível construir uma Passive House com qualquer método construtivo. Isso é uma grande mais-valia. Ou seja, conseguimos usar a mão de obra disponível no mercado, os materiais mais comuns e, ainda assim, cumprir todos os critérios que procurávamos: qualidade térmica, qualidade do ar interior, conforto acústico, que era muito importante para nós, e eficiência energética. Não queríamos ter grandes custos com aquecimento ou arrefecimento da casa.
Outra mais-valia foi o facto de, logo na fase de projeto, conseguirmos ter uma ideia do comportamento final da casa. À medida que desenvolvemos o projeto, sabíamos, com base nos materiais escolhidos e nas opções de desenho, se estávamos a melhorar ou a comprometer o desempenho. Isso foi muito importante para nós.
MG: Ou seja, poderem prever em projeto, e não deixar para aquela incógnita que é “logo se vê quantos aquecedores precisamos”?
CS: Sim, eu já estava um bocadinho cansada disso. As casas anteriores foram assim: só depois de morar nelas é que percebemos como eram os invernos e os verões. E não queríamos mais isso. A possibilidade de prever o desempenho foi, de facto, espetacular.
Claro que depois tudo depende da construção: dos erros que podem ocorrer, de se se executa ou não o que foi projetado. Mas ter essa previsão é muito importante.
MG: Claro. E como o processo inclui testes, a casa tem mesmo de cumprir. Caso contrário, não há certificação.
CS: Exatamente.
MG: Descreve-nos um bocadinho como é a tua casa. É uma moradia térrea, não é?
CS: Sim, é uma moradia térrea, localizada na zona de Leiria, numa área essencialmente rural. Tem cerca de 155 metros quadrados de área útil e é para a nossa família.
MG: Em que ponto é que a Homegrid entra no processo?
CS: Depois de decidirmos pelo conceito Passive House, e de um ano a recolher informação, escolhemos um arquiteto que admirávamos. Mas percebemos rapidamente que ele não estava familiarizado com o conceito Passive House, então decidimos contratar consultores. Pedimos orçamentos a duas ou três empresas e acabámos por escolher a Homegrid.
Precisávamos de alguém com conhecimento técnico, porque uma Passive House tem de ser bem pensada desde o início. Não é algo que se possa corrigir mais tarde na obra.
MG: E o que pesou na escolha da Homegrid?
CS: Vários fatores. Um deles foi a facilidade de comunicação com os arquitetos – o João Gavião e o João Marcelino. Outro foi o facto de já terem experiência comprovada, com casas certificadas em fases anteriores. Esses dois fatores, experiência e comunicação, foram determinantes.
MG: Como correu o processo durante a obra?
CS: Correu muito bem. Houve um diálogo excelente entre o nosso arquiteto e o arquiteto consultor, o João Gavião. A grande diferença está mesmo na conceção: não é só desenhar uma casa, é desenhar uma casa com um objetivo claro de conforto.
Houve muito cuidado com a orientação solar, com os materiais escolhidos e com a sua otimização. Não basta isolar, é preciso isolar bem. Esta fase correu muito bem e foi um processo de aprendizagem para todos. Cada projeto traz novos desafios.
MG: E na fase de obra?
CS: Também correu bem, mas aí houve necessidade de diálogo com mais intervenientes. Uma sugestão: devia haver mais formação para os trabalhadores no terreno, pedreiros, canalizadores, etc. Muitas vezes a comunicação técnica não chega a quem está com as mãos na massa e isso leva a pequenos erros evitáveis.
MG: Sem dúvida. E este diálogo entre equipas é essencial, especialmente porque a certificação depende de todos os detalhes estarem bem executados.
CS: Exatamente. O diálogo foi permanente e ajudou muito. Mas há um problema estrutural na construção em Portugal: a qualidade da mão de obra e os hábitos enraizados. Não é só pela Passive House, é uma questão de bem construir. Esta foi a primeira casa que construí, e reparei bastante nisso.
MG: Muitas vezes, o tempo e os custos são os mesmos, é só uma questão de fazer bem.
CS: Sim. O problema é que as pessoas estão habituadas a fazer de uma certa forma e acham que está bem feito, mesmo quando não está. É preciso mudar essa mentalidade, e isso implica formação.
MG: Houve algum momento em que sentiste: “se não tivéssemos esta consultoria, isto não dava certo”?
CS: Desde o início. Tenho a plena consciência de que, sem os consultores, nunca conseguiríamos fazer uma Passive House. Nenhum dos intervenientes estava preparado para isso, desde o arquiteto até à empresa de construção. Ainda não é uma prática comum.
MG: A casa já passou o blower door test, portanto está bem encaminhada para a certificação. Sempre foi esse o vosso objetivo. Porquê?
CS: Sim, desde o início. Por duas razões. Primeiro, para validar o investimento. Se um dia precisar de vender, sei que tenho uma Passive House certificada, com valor reconhecido no mercado. Segundo, a certificação aumenta a responsabilidade dos parceiros. Sabem que tudo será avaliado com rigor.
MG: O processo de consultoria e certificação com a Homegrid foi, então, um trabalho contínuo?
CS: Sim, absolutamente. A consultoria ajudou muito na preparação da documentação: recolha de fichas técnicas, medições em obra, registos fotográficos. Foi crucial para o sucesso do processo.
MG: E agora a próxima etapa é a monitorização da casa. Porquê?
CS: Acho a ideia muito interessante. Por um lado, ajuda-nos a avaliar o desempenho real da casa no dia a dia. Por outro, contribui para o estudo da Passive House em Portugal. Quanto mais dados tivermos, mais podemos aprender e melhorar.
MG: Esses dados também vão permitir otimizar ainda mais o uso da casa?
CS: Sim, sem dúvida. Tal como um carro, o desempenho depende do uso. Vamos aprender a viver nesta casa e a tirar o melhor partido dela. A monitorização vai ajudar nisso.
MG: Para terminar, que mensagem deixas a quem está indeciso sobre construir uma Passive House?
CS: Que pesquisem. A sério. Porque vale a pena. Uma casa é um investimento de uma vida. Gastar tanto tempo e dinheiro para depois não ter conforto é um grande fracasso. Não digo que a Passive House seja a única ou a melhor solução para todos, mas é essencial partir para o projeto com informação. E sim, vale muito a pena.
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